A COP30, que será sediada em Belém em 2025, representa mais do que um marco diplomático: é um ponto de inflexão para o setor de biogás brasileiro. Pela primeira vez, o foco da agenda climática mundial estará diretamente sobre a Amazônia, o bioma que concentra não apenas a maior biodiversidade do planeta, mas também uma das maiores reservas de matéria orgânica com potencial energético do mundo.
Nesse contexto, o biogás emerge não apenas como uma alternativa energética, mas como uma infraestrutura estratégica para a descarbonização e a economia circular.
O biogás como eixo transversal da transição energética
Enquanto países desenvolvidos buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, o Brasil tem a vantagem de possuir um ativo subutilizado: os resíduos agroindustriais e urbanos.
Esses resíduos, quando tratados em sistemas anaeróbios, se tornam combustível limpo (biometano) e fertilizante orgânico (digestato).
A COP30 abre espaço para que o biogás deixe de ser um tema de nicho e passe a ocupar o centro da política de transição energética, ligando agro, indústria, saneamento e mobilidade em um mesmo vetor de sustentabilidade.
Cadeia de valor fragmentada: o gargalo estrutural
Apesar do avanço tecnológico e da crescente oferta de equipamentos nacionais, a cadeia de valor do biogás no Brasil ainda é fragmentada.
De um lado, produtores de substrato (como usinas e cooperativas) não possuem clareza sobre modelos de viabilidade técnica. De outro, investidores ainda encontram riscos de integração entre tecnologia, operação e monetização de carbono.
Entre os elos críticos estão:
- A falta de padronização de dados para Medição, Relato e Verificação (MRV);
- A escassez de integradores técnicos que consigam traduzir engenharia em retorno econômico;
- E a distância entre as políticas públicas e o ritmo real da indústria.
A COP30 é o momento ideal para transformar esses gargalos em diretrizes: uma oportunidade de redesenhar a governança técnica, comercial e ambiental do setor.
O papel da engenharia no novo desenho da cadeia
A engenharia ocupa uma posição estratégica nesse redesenho. Projetos de biogás mais competitivos dependem de três fatores fundamentais:
1 – Eficiência na conversão energética: maximizar a geração de biometano a partir de substratos variados;
2 – Integração tecnológica: conectar sensores, automação e digital twins à operação dos reatores;
3 – Modularidade e replicabilidade: transformar o modelo de projeto único em soluções escaláveis e ajustáveis a diferentes portes.
Esses avanços permitem reduzir custos de CAPEX e OPEX, aumentar a previsibilidade e atrair capital de impacto. A engenharia é, portanto, o elo entre a inovação e a bancabilidade.
Políticas públicas e instrumentos financeiros como indutores
A COP30 também deve fortalecer instrumentos financeiros de fomento à energia limpa, especialmente via Fundo Clima, BNDES Verde e novas linhas de crédito internacionais vinculadas à mitigação de metano.
Esses mecanismos podem acelerar a maturidade da cadeia ao estimular:
- Contratos de longo prazo (PPAs de biometano);
- Certificações de origem e rastreabilidade;
- Programas de cooperação entre universidades, startups e indústrias.
A união entre engenharia aplicada e política de incentivo é o caminho mais sólido para consolidar o biogás como ativo estratégico do Brasil até 2030.
O redesenho da cadeia de valor do biogás não é apenas uma questão tecnológica, mas de integração sistêmica.
A COP30, ao trazer o mundo para olhar a Amazônia, dá ao Brasil a chance de provar que é possível alinhar engenharia, sustentabilidade e competitividade em um mesmo eixo.
O desafio agora é transformar o discurso climático em infraestrutura real e o biogás está pronto para liderar esse movimento.
